Espaço público, Cultura, Política, Comunidade, Território, Pessoas

Chuva

Nos passados meses de outono, na Galiza quase não choveu; ou não choveu como era habitual; a temperatura era relativamente alta para aqueles meses em muitos dias; um prolongamento dum início de outono excessivo, que produzia satisfação e alegria em muitas pessoas: felizes com esse tempo; este calorzinho, este sol, aquelas esplanadas, e passeios, praia, turismo…

Na cidade onde moro, Santiago de Compostela, era habitual encontrar pessoas satisfeitas com o clima; algumha delas colocava, certamente, como umha pequena má consciência, que bem para o campo não era, e que seca até podia haver; mas, com esse ar que nos nutre e essa cara que em nós ficou desde que resolvemos esquecer que as maçãs não se fabricam, ao menos por enquanto, em naves industriais, e que colhemos verduras nos supermercados olhando a forma e não a origem, tudo era rapidamente compensado pola felicidade ansiada do calor e do sol sem chuva.

Jornais, meios, até redes, não ajudam; animais sem água nem pasto; árvores sem fruta; água que não há, tudo com a ignorância alimentada de fé tecnológica e de quem clama em defesa da Galiza como um símbolo, nunca como umha verdade com gente e terra.

E esta persistente vontade de esquecer, de não querer saber, de fugir a nós mesm@s, de não querer inserir-nos em tudo aquilo que nos trouxo até aqui, negativistas culturais: a chuva dá forma e estratégia ao nosso modo de estar no mundo; detrás de muitas cantigas, sentenças, provérbios, festas, contos, comes e bebes, casas e arquiteturas, ruas, rueiros e congostras, paisagem, território, identidades; alimentando tudo o que eu não percebo ainda mas me define, tudo o que eu não sei e cresce a cada passo, devo, devemos à chuva. E nem sequer somos capazes de molhar-nos e saber molhar-nos.

Sobre o autor

Elias J. Torres Feijó

Tenta trabalhar coletivamente e acha que o associativismo é a base fundamental do bom funcionamento social e comunitário. A educação nos Tempos Livres é um desses espaços que considera vitais. Profissionalmente, é professor de Literatura, em origem, e, mais, na atualidade, de Cultura.

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Tenta trabalhar coletivamente e acha que o associativismo é a base fundamental do bom funcionamento social e comunitário. A educação nos Tempos Livres é um desses espaços que considera vitais. Profissionalmente, é professor de Literatura, em origem, e, mais, na atualidade, de Cultura.

Xoán Carlos Carreira Pérez

Doutor engenheiro agrónomo, professor de Engenharia Agroflorestal na Universidade de Santiago de Compostela. Autor de vários livros e artigos científicos, tem colaborado em diversos meios de comunicação, como A Nosa Terra, El Progreso, Vieiros e Praza Pública.

Xosé Manuel Sarille

Polemista e tamén escritor. Autor do ensaio "A Causa das Mulleres". A quen lle interese lelo pode solicitalo neste blog e enviaráselle ao enderezo correspondente sen custo ningún do exemplar nin do transporte.

Manuel Jordán Rodríguez

Lembrado e Querido Manuel Ánxel

Viva Cerzeda

Espaço público, Cultura, Política, Comunidade, Território, Pessoas… Viva Cerzeda é a comemoração, para nós, da amizade, do bom humor sempre que possível e de tentar contribuir com algumhas ideias e opiniões para entender(mos) e atuar(mos) do melhor modo o mundo… É ambicioso mas é-che o que há… e para mais não damos…

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