Nos passados meses de outono, na Galiza quase não choveu; ou não choveu como era habitual; a temperatura era relativamente alta para aqueles meses em muitos dias; um prolongamento dum início de outono excessivo, que produzia satisfação e alegria em muitas pessoas: felizes com esse tempo; este calorzinho, este sol, aquelas esplanadas, e passeios, praia, turismo…
Na cidade onde moro, Santiago de Compostela, era habitual encontrar pessoas satisfeitas com o clima; algumha delas colocava, certamente, como umha pequena má consciência, que bem para o campo não era, e que seca até podia haver; mas, com esse ar que nos nutre e essa cara que em nós ficou desde que resolvemos esquecer que as maçãs não se fabricam, ao menos por enquanto, em naves industriais, e que colhemos verduras nos supermercados olhando a forma e não a origem, tudo era rapidamente compensado pola felicidade ansiada do calor e do sol sem chuva.
Jornais, meios, até redes, não ajudam; animais sem água nem pasto; árvores sem fruta; água que não há, tudo com a ignorância alimentada de fé tecnológica e de quem clama em defesa da Galiza como um símbolo, nunca como umha verdade com gente e terra.
E esta persistente vontade de esquecer, de não querer saber, de fugir a nós mesm@s, de não querer inserir-nos em tudo aquilo que nos trouxo até aqui, negativistas culturais: a chuva dá forma e estratégia ao nosso modo de estar no mundo; detrás de muitas cantigas, sentenças, provérbios, festas, contos, comes e bebes, casas e arquiteturas, ruas, rueiros e congostras, paisagem, território, identidades; alimentando tudo o que eu não percebo ainda mas me define, tudo o que eu não sei e cresce a cada passo, devo, devemos à chuva. E nem sequer somos capazes de molhar-nos e saber molhar-nos.