Cidade minha,
Prometo ser estrangeiro nos teus lugares
para admirar-te,
E tentar ser bom filho para cuidar-te,
em júbilo ou infortúnio
Amorosamente acariciar-te no passeio,
sentar-me no teu colo e brincar à procura de todos os sinónimos do afago e da ternura que me brindas.
Quando, adulto quotidiano, esqueça a maravilha que me dás
ou, homem sem canto, comece a baralhar-te
Lembra-me tu,
cidade minha,
com brilho ou contraluz,
a falta
e dá-me a indulgência doutro dia nas tuas cores.
Concede-me a graça de avisar-me das aves que passam ou pousam nos teus ombros
do arbusto que a inépcia não me deixou sonhar e abraçar devidamente
E da montra renovada do armarinho,
da novidade em azeviche
dos perfumes das lojas que te nutrem
da mercearia em que cumprimento alegremente as empregadas
E de todas as tuas gentes de bem,
cidade minha,
que bem te querem,
cidade nossa,
paciente acolhedora de quem as tuas ruas chega,
cidade gemente silenciosa lacerada de agravos que não impedimos.
Dá-nos, por isso, a tua força e não só o teu consolo
para lavar as feridas
com a seiva das tuas árvores antigas e das tuas mais novas crianças.
E deixa-me ser estrangeiro e natural de ti,
surpresa, pasmo, sobressalto,
confabulado, íntimo,
modesto cúmplice com todas as gentes tuas
da solidez do teu gesto
e da ternura que em ti habitamos.
De ti e em ti, cidade minha,
sentado e em pé para os teus passos
mão na parede
olhos no infinito das tuas atmosferas
e janelas abertas aos sorrisos
para ficar gravado tudo
no âmago da alma que me deste.
E assim seja