I
Yo he visto al águila herida
volar al azul sereno
José Martí
Quando morreu seu pai,
Saúl,
ouviu a sua mãe entristecida
que havia que deixar o povoado e ir para a cidade.
Reunir-se com a família, dixo.
Saúl meteu na mala o diário de aventuras,
pouco mais.
Voltariam em breve, mentira a mãe às lágrimas de Saúl.
Saúl guardou a felicidade;
dentro da pedra do muro do caminho ao monte a guardou.
Aquando do regresso primeiro, efêmero,
viu que a felicidade estava bastante bem conservada.
Do outro lado do muro estava
De cima a olhou
Na cidade,
Saúl foi ficando preso ao pranto da mãe.
E entendeu que não haveria volta de vez.
Então,
percorreu muitos caminhos à procura de pedras desencaixadas nos muros:
tirava-as; a muito custo, às vezes;
ia encontrando; ia guardando. Pouca cousa, é verdade.
Ferido nos joelhos ao subir ou de alguns descer;
as mãos também arranhadas,
como assim era quando roubava fruta
nas quintas do povoado
Mas sem fruta nem povoado.
Amarrado à corda da paciência insuficiente
à calma humilde
na angústia que lhe ia no coração.
Muitos anos mais tarde,
recolheu os restos da paciência
embrulhou a angústia
olhou o muro em que as encaixara
e sentiu que a espera valera a pena:
luminárias de seres diminutos
pendentes dos ocos no muro que deixaram as pedras
estavam.
Rodeou a madeira com as pedras
acendeu a fogueira da noite
compartilhou fruta e a verdura assada
E dormiu sem ter que saber se haveria dia depois.