Na passada primavera fum convidado polas Profas. Teresa Moure e Sabela Fernández para fazer a conferência de encerramento do Curso de Verão “Galego, porta aberta para o mundo”, que elas conduzirom na Universidade de Santiago de Compostela. A data marcada foi 29 de junho e o título que dei o de Língua, cultura e comunidade galega: Tentativas para maior coesão e satisfação. Decidim dedicar parte da mesma a analisar alguns aspetos relativos à primeira parte nele enunciada. Para isso, pareceu-me oportuno abordar, do ponto de vista da globalidade indicada no tal título, as principais notícias que uns dias antes (selecionei dia 26) a estação de rádio de maior audiência na Galiza, Rádio SER, desse no seu noticiário das 7.50 a.m., entendendo que elas contribuem para fabricar ideias na Galiza. Forom estas três: as iniciativas destinadas, fundamentalmente no Parlamento, à recuperação do denominado Paço de Meirás; o curso das obras para a conexão por AVE entre diversas cidades galegas e Madrid; e a crise demográfica ou envelhecimento e perda populacional. Nos três casos, salientava-se, com maior ou menor intensidade, essas notícias constituírem motivo de atenção e preocupação por parte das principais formações políticas galegas. As focagens das três evidenciam, do meu ponto de vista e de maneira quase modelar, alguns dos problemas fundamentais da cultura na Galiza. Aqueles, penso eu, que a colocam num âmbito de imaturidade e subalternidade, de continuada condena sísifica, sem nunca conseguir fixar rochas nos cimos das montanhas, porque presidida dumha ausência de contraste e polémica que não corra além de símbolos sublimados. E que mostram algumhas constantes e desafios culturais na comunidade galega.
Vou com a primeira referência:
O Paço de Meirás
Há unanimidade no que se denomina ou devolução ou recuperação para o povo. De facto, a tal notícia de 26 de junho indicava que o PPdG, com umha iniciativa parlamentar, se unia a essa reclamação. Por que é reclamado?: porque se indica ser umha apropriação indevida num quadro de situação de golpe militar, coagido esse povo polas autoridades da época. Para que é reclamado?: Para que o que foi roubado seja devolvido; Sim, mas para que? E é provável que aqui comece o bucle e as respostas sejam as mesmas em correlato na razão e na finalidade. É, portanto, o símbolo o que está em jogo, mas apenas o símbolo. Qual é a finalidade que se dará ao Paço quando recuperado? não ouvim nem lim propostas das formações políticas sobre isto (pode ser ignorância minha); mas não vejo que haja formulação ou debate central relativamente a essa finalidade. Adiro, naturalmente, à iniciativa de recuperação; também polas poderosas razões simbólicas que estão por trás dela; elas tenhem, melhor, podem ter, umha índole pedagógica fundamental. Mas não faz sentido ou este não será pleno se o Paço não tiver um destino determinado. E depende igualmente desse destino: imaginemos um Museu da memória da guerra e a repressão (imprescindível, por exemplo, no Museu do Povo Galego ou no Gaiás): voltávamos ao bucle; é como replicar com a vaca na bandeira galega ao touro na espanhola: sempre dependendo do outro, do símbolo do outro que se aceita como imposição… E o Paço existia antes de Franco. Recuperá-lo é também recuperar umha história que vai além da terrível contingência derivada do golpe de 1936 … E o uso não tem por que aludir a essa história; seria, aliás, improdutivo…
E há tanto por fazer e por construir sobre nós mesm@s, em entendermo-nos e avançarmos…
A luta pola recuperação do Paço de Meirás mostra que ainda estamos na esfera do simbólico e do, às vezes, subliminar; que devemos pensar na utilidade, que devemos abandonar a pura ideia de salvarmo-nos no imaginário para edificar um presente prático, praticável, pondo recursos concretos ao serviço da normalidade do nosso presente e futuro, para superar a subalternidade: construímos muitos símbolos, que convertemos em bens (alguns de potência indiscutível, outros, geradores de mais melancolia), mas andamos bem escassos de ferramentas. E se quigermos um país normal, convém começar a agir com normalidade e destinar as energias e recursos que possuamos, por definição escassos e esgotáveis, a essa prioridade.